quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Visita Noturna


16/08/2008

Choveu o dia inteiro e chove agora. Apesar da escuridão que tomou os céus, vejo somente o ouro: um céu feito de uro, despejando gotas metálicas de luz sobre a terra.
De repente eu vejo: uma sombra se moveu no fim do corredos em direção ao quarto. Provavelmente uma ilusão. Ainda assim, indago se é você. Observou-me enquanto estive no quarto? O faz agora que estou na sala? Posso sentí-la claramente, como se estivesse de pé diante de mim. Perdoe-me, mas só consigo ver o preto: calças, botas, uma blusa de lã com gola olímpica. Não há capa; não está frio o suficiente. Seus cabelos pendem, soltos; seus olhos castanhos encontram os meus. Seu rosto está calmo e isso me aclama. É quase um espelho com um leve sorriso. Parece que veio apenas obsercar-me...
Então, é isso: quer apenas compainha. Compreendo; seu trabalho deve fazê-la sentir-se só. Venha, sente-se. Veio para minha história? Irá contá-la a outros? Talves ela não seja o que você espera. Nunca presenciei guerras além daquelas que travo comigo mesma; tampouco há um judeu no meu porão. Neste há apenas os meus próprios fantasmas, criações que há muito abandonei. Mas caso lhe interesse, roubei um livro uma vez. Na verdade, esqueci de devolvê-lo à biblioteca do colégio há alguns anos. O Crime do Padre Amaro. Talvez eu deva aprimorar meus métodos...
Você se levanta e perambula pela sala, olha fotos... pega a do meu batizado e sorri abertamente. Mais uma vez pára diante de mim, abaixa-se até que nossos olhos se nivelem. Vejo algo de familiar neles. Mas antes que eu descubra você se levanta, caminha até a porta, me olha mais uma vez e se vai.