sábado, 3 de abril de 2010




Uma chuva gostosa cai lá fora, quebrando o silêncio daqui de dentro.
Eu me debato, me desespero, corro atrás delas, mas elas fogem de mim. Numa fuga risonha, sádica. Escapam-me quando quase consigo tocá-las. Eu desisto. Sento-me e choro, como Alice sem conseguir passar pela porta. Vejo todos os papéis ao meu redor, riscados, apagados, vazios.
A chuva parou e o silêncio se estabelece mais uma vez. Elas saem de seu esconderijo, lentamente, ainda com um sorriso no rosto. Sorrateiras. Recolhem-me do chão. Não luto, não resisto. Ela fazem de mim o que eu deveria fazer delas: me tomam, moldam, usam. Penetram em minha pele e fazem de mim um mero instrumento. Sob seu domínio, me libertam e após servir meu propósito posso descansar em seus braços e saber que elas não pertecem a mim e sim, eu, a elas.